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A proximidade a Lisboa arrisca Torres Vedras a tornar-se uma “Almada saloia”, caso a cidade não consiga criar uma “identidade própria”. Essa é a visão do Economista Luís Campos e Cunha e foi explanada na conferência “Conversas com futuro: o desenvolvimento económico e social da Região Oeste e do País – constrangimentos e oportunidades”. Fórum teve lugar na última sexta-feira, dia 22 de novembro, reuniu 80 empresários e assinalou os 25 anos do grupo Tecline, de António Ferreira dos Anjos: “Queremos quebrar a ‘Espiral do Silêncio’ e abrir a porta a uma maior intervenção cívica dos empresários”

O economista e ex-ministro das Finanças, Luís Campos e Cunha, orador presente na conferência “Conversas com Futuro: o desenvolvimento económico e social da Região Oeste e do País – constrangimentos e oportunidades”, que reuniu 80 empresários, na última sexta-feira, em Torres Vedras, alertou para o “perigo da almadização de Torres Vedras”. E sugeriu que o desafio de “evitar que a cidade se torne a Almada saloia” pode passar pela “aposta nas artes e nos vinhos de excelência”.

“Com a proximidade a Lisboa há o perigo de a cidade começar a fazer parte da estrutura económica da Capital e de transformar-se num dormitório. Será um processo de décadas que surgirá como irreversível. Oeiras conseguiu alguma independência, fixando grandes empresas. Cascais apostou na cultura e lazer. Torres Vedras tem uma excelente base económica, com agricultura muito forte, alguma indústria e serviços de saúde, mas não chega: será importante criar uma identidade mais própria, com uma aposta, por exemplo, nas artes, ou nos vinhos de excelência”, afirmou Luís Campos e Cunha. “Veja-se o exemplo de Nova Iorque, em que o desenvolvimento de determinadas áreas da cidade, ao longo das décadas, seguiu-se sempre à chegada das artes. Nos vinhos, seria importante ter cinco ou seis grandes marcas de vinhos de qualidade”, perspetivou.

Numa perspetiva nacional, Luís Campos e Cunha identificou as razões que impedem que, em Portugal, exista “uma avalanche de grandes projetos internacionais de investimento”, quando o país apresenta enormes vantagens competitivas: “distância das guerras; estabilidade política; infraestruturas; licenciados; gastronomia e clima; civismo e povo aberto à inovação”. E aí identificou a ineficiência da Administração Pública e a Fiscalidade como problemas a resolver. “Perante impostos diretos muito altos, só projetos com baixos salários são viáveis em Portugal”, sentenciou.

União face à falta de escala.

O evento “Conversas com Futuro: o desenvolvimento económico e social da Região Oeste e do País – constrangimentos e oportunidades”, que assinalou as celebrações dos 25 anos do grupo Tecline, integrou ainda as reflexões Manuel José Guerreiro (Presidente da Caixa de Crédito Agrícola de Torres Vedras), João Catalão (Empresário), João Sousa (administrador dos CTT) e Álvaro Beleza (presidente da SEDES).

Álvaro Beleza, que começou “assinando por baixo” a intervenção de Luís Campos e Cunha, alertou desafiou os presentes para um “sobressalto cívico” e para a necessidade de Portugal saber potenciar a situação de “porto de abrigo europeu”; lançou o tema da reforma do sistema político – “precisamos de escolher os deputados” – e chamou os empresários a uma maior intervenção política. “Precisamos dos portugueses na política, dos melhores na política, de empresários na política. Temos de passar da palavra à ação e ter coragem para decidir coisas difíceis”. Ainda para o setor empresarial, ressalvou o problema da “falta de escala”. “Não podemos ter medo de ter ambição. Não temos marca. Temos Cristiano e o Mateus Rosé. Não temos uma grande empresa, não temos grandes grupos económicos; e temos de mudar a fiscalidade. Porque hoje, para pagar menos impostos, temos de nos dividir. A alternativa é os empresários unirem-se, com as suas empresas. Por isso, temos também de acabar com a inveja”, prosseguiu. “Acho mesmo que, Portugal, pode ser a Dinamarca do Sul. Mas isto só é possível se houver um desígnio coletivo e deixarmos de ter medo de ter ambição. E de dizermos ao Governo que somos donos disto”.

Álvaro Beleza chamou ainda a atenção para inevitabilidade de um maior investimento em Defesa, o que irá exigir mais eficiência do Estado na manutenção dos seus serviços.  Manuel José Guerreiro (Presidente da Caixa de Crédito Agrícola de Torres Vedras) e João Sousa (administrador dos CTT) desenvolveram a temática da conferência, enquadrando sobretudo os exemplos das respetivas empresas. Por fim, o empresário João Catalão, fez uma intervenção de âmbito mais motivacional e disruptivo.

Quebrar a “Espiral do Silêncio”

A conferência “Conversas com Futuro: o desenvolvimento económico e social da Região Oeste e do País – constrangimentos e oportunidades” fechou as celebrações dos 25 anos grupo Tecline. António Ferreira dos Anjos, empresário e anfitrião do evento, enquadrou o desafio a que se propôs:

“Nos anos 70 do passado século XX, uma socióloga apresentou e defendeu uma teoria que foi designada por “Espiral do Silêncio”. O conceito explica que os agentes sociais analisam o ambiente ao seu redor e ao identificar que pertencem à minoria, preferem resguardar-se para evitar conflitos. É a “Espiral do Silêncio”. Ora, hoje, vários economistas, sociólogos, empresários e comentadores políticos, consideram importante aumentar o poder da sociedade civil. Eu creio que a “Espiral do Silêncio” é uma das principais razões para a ausência de intervenção cívica dos empresários portugueses, e acredito que essa ausência diminui, drasticamente, o poder da dita sociedade civil.”

António Ferreira dos Santos lançou assim o objetivo de “quebrar essa ‘Espiral do Silêncio’ e abrir a porta a uma reflexão sobre a possibilidade de uma maior intervenção cívica dos empresários. Não numa vertente político-partidária, que não será a vocação dos empresários, mas no quadro da atividade empresarial, com a qualidade, dignidade e prestígio que merecem ter os empresários”, afirmou.

“Se a Administração Pública, as Instituições Financeiras, as Instituições socioculturais, as Instituições Académicas e Científicas, ou outras, quiserem promover “Clusters” de várias atividades na Região, promover Fundos de Investimento, Joint Ventures ou quaisquer outros instrumentos económicos e financeiros semelhantes, poderão certamente contar com o empenho e a colaboração útil dos empresários. Estas ideias não dispensam, antes podem enquadrar, investimentos públicos em infraestruturas e em muitas outras áreas que impliquem e sejam fundamentais ao desenvolvimento económico da Região”, prosseguiu António Ferreira dos Santos, realçando: “Precisamos de atrevimento, ambição e sonho para promover o futuro da Região e do País. Com a certeza de uma motivação social generalizada. Poderíamos chamar a isto “Desígnio Regional’. A criatividade e a imaginação induzem o investimento e este possibilita a criação de riqueza, a sustentabilidade e o bem-estar social”.